Espécies e famílias prioritárias para observação e identificação na Lousã
Com vista à identificação de áreas prioritárias para conservação na Lousã, tenho tentado registar a biodiversidade existente em vários locais, sempre com a esperança de encontrar alguma espécie rara. Para aumentar a probabilidade desse encontro preciso de aprender mais sobre as espécies e os géneros e famílias correspondentes. Por outro lado, também pretendo intensificar a identificação de observações de outros utilizadores, pois neste momento tenho mais observações do que identificações. Uma forma de conciliar os dois objetivos é enumerar algumas famílias prioritárias para identificação (famílias que incluam espécies raras potencialmente presentes na Lousã e que tenham uma grande percentagem de observações sem identificação) e dedicar mais tempo à identificação de observações dessas famílias: ao fazê-lo não só estarei a ajudar outros utilizadores como estarei a aprender mais sobre essas famílias, aumentando a probabilidade de identificar uma espécie rara se a encontrar.
Começo por elaborar uma lista das espécies referidas na Lista Vermelha da Flora Vascular em Portugal [1] que possam ocorrer na Lousã. Os grupos ecológios/geográficos mais relevantes (página 66) serão os seguintes, mais ou menos por ordem decrescente de relevância:
- p.146 Serras do Centro
- p.157 Bosques e galerias ripícolas (Noroeste e Centro)
- p.122 Serras do Noroeste
- p.83 Bosques e galerias ripícolas (Beira interior)
- p.98 Lameiros e outros prados
- p.105 Grandes vales mediterrânicos
Eis algumas espécies em perigo observadas nessas regiões, nomeadamente perto da Lousã ou em locais com caraterísticas vagamente semelhantes:
- Amaryllidaceae > Allium ericetorum
- Amaryllidaceae > Narcissus cyclamineus
- Apiaceae > Berula erecta
- Apiaceae > Eryngium viviparum
- Apiaceae > Pastinaca sativa
- Apiaceae > Selinum broteri
- Asparagaceae > Anthericum liliago
- Asteraceae > Avellara fistulosa
- Asteraceae > Doronicum carpetanum
- Asteraceae > Jurinea humilis
- Asteraceae > Senecio doria
- Asteraceae > Senecio nemorensis
- Blechnaceae > Woodwardia radicans
- Brassicaceae > Arabis beirana (endemismo raro)
- Brassicaceae > Erysimum lagascae
- Caryophyllaceae > Dianthus laricifolius (endemismo)
- Caryophyllaceae > Lychnis flos-cuculi
- Culcitaceae > Culcita macrocarpa
- Cyperaceae > Carex durieui
- Cyperaceae > Eleocharis acicularis
- Cyperaceae > Rhynchospora alba
- Dipsacaceae > Knautia nevadensis
- Dipsacaceae > Succisa pinnatifida
- Dipsacaceae > Succisella carvalhoana
- Dryopteridaceae > Dryopteris carthusiana
- Dryopteridaceae > Dryopteris guanchica
- Ericaceae > Monotropa hypopitys
- Fabaceae > Astragalus glycyphyllos
- Fabaceae > Genista berberidea
- Fabaceae > Vicia orobus
- Hymenophyllaceae > Vandenboschia speciosa
- Lamiaceae > Nepeta caerulea
- Lamiaceae > Stachys palustris
- Liliaceae > Lilium martagon
- Lycopodiaceae > Lycopodiella inundata
- Lycopodiaceae > Palhinhaea cernua
- Menyanthaceae > Menyanthes trifoliata
- Ophioglossaceae > Ophioglossum vulgatum
- Orchidaceae > Cephalanthera rubra
- Orchidaceae > Epipactis fageticola
- Orchidaceae > Neotinea/Orchis ustulata (endemismo raro)
- Orchidaceae > Neottia nidus-avis
- Orchidaceae > Platanthera bifolia (supostamente presente na Lousã apesar de preferir substratos alcalinos)
- Primulaceae > Lysimachia ephemerum
- Ranunculaceae > Anemone nemorosa
- Ranunculaceae > Ranunculus henriquesii (endemismo)
- Rosaceae > Potentilla montana
- Rosaceae > Rosa rubiginosa
- Rosaceae > Rubus genevieri (eventualmente terá sido observada por mim na Lousã)
- Rosaceae > Sorbus aria
- Rosaceae > Sorbus latifolia (possivelmente já avistado entre o Freixo e Ceira dos Vales)
- Rosaceae > Sorbus torminalis
- Santalaceae > Viscum album
- Taxaceae > Taxus baccata
- Thymelaeaceae > Thymelaea broteriana
- Valerianaceae > Valeriana dioica
- Valerianaceae > Valeriana montana
- Valerianaceae > Valeriana officinalis
- Xanthorrhoeaceae > Asphodelus bento-rainhae (endemismo raro)
Comecemos por analisar o número total de observações e o número de espécies observadas de cada uma destas famílias na Lousã (concelho da Lousã e SIC Natura 2000 Serra da Lousã) [2]:
- 71/29 Asteraceae
- 106/23 Fabaceae
- 46/15 Lamiaceae
- 48/11 Rosaceae
- 104/9 Ericaceae
- 20/9 Brassicaceae
- 23/7 Ranunculaceae
- 36/5 Asparagaceae
- 17/5 Caryophyllaceae
- 13/4 Amaryllidaceae
- 10/4 Xanthorrhoeaceae
- 9/4 Apiaceae
- 6/4 Orchidaceae
- 6/3 Primulaceae
- 5/2 Dryopteridaceae
- 2/2 Cyperaceae
- 9/1 Thymelaeaceae
- 3/1 Santalaceae
- 1/1 Blechnaceae
- 1/1 Valerianaceae
- 0/0 Culcitaceae
- 0/0 Dipsacaceae
- 0/0 Hymenophyllaceae
- 0/0 Liliaceae
- 0/0 Lycopodiaceae
- 0/0 Menyanthaceae
- 0/0 Ophioglossaceae
- 0/0 Taxaceae
Existem 15 famílias com pelo menos 2 espécies autóctones observadas e pelo menos 5 observações na Lousã. Para cada uma dessas famílias calculemos a razão entre o número total de observações na Lousã e o número de observações GP em Portugal continental:
- 1/11 Dryopteridaceae (5/55)
- 1/22 Ericaceae (104/2278)
- 1/30 Rosaceae (48/1420)
- 1/34 Xanthorrhoeaceae (10/336)
- 1/49 Ranunculaceae (23/1125)
- 1/69 Fabaceae (106/7272)
- 1/81 Brassicaceae (20/1611)
- 1/85 Asparagaceae (36/3072)
- 1/85 Lamiaceae (46/3917)
- 1/117 Caryophyllaceae (17/1990)
- 1/121 Asteraceae (71/8614)
- 1/144 Primulaceae (6/862)
- 1/150 Amaryllidaceae (13/1945)
- 1/224 Apiaceae (9/2014)
- 1/1189 Orchidaceae (6/7135)
11 destas famílias têm na Lousã pelo menos 15 observações ou pelo menos 1% das observações em Portugal Continental. Consideremos essas como as famílias prioritárias para observação e identificação na Lousã. Para terminar, calculemos para cada uma dessas famílias a razão entre o número de observações verificáveis de outros utilizadores que precisam de identificação e o número de observações GP no distrito de Coimbra: as famílias em que esse quociente é mais elevado (sobretudo as que incluem endemismos raros) serão aquelas às quais darei prioridade na identificação de observações de outros utilizadores.
- 1,15 Xanthorrhoeaceae (20-5)/13
- 1,12 Rosaceae (140-21)/106
- 1,11 Asteraceae (399-41)/323
- 0,98 Ranunculaceae (66-9)/58
- 0,88 Brassicaceae (53-15)/43
- 0,82 Fabaceae excluindo exóticas [(258-30)-(84-23)]/(874-671); 0,20 se as incluirmos (258-84)/874
- 0,57 Caryophyllaceae (45-6)/69
- 0,32 Lamiaceae (76-9)/207
- 0,25 Dryopteridaceae (4-0)/16
- 0,21 Asparagaceae (35-4)/145
- 0,07 Ericaceae (30-15)/205
Assim, as 10 famílias prioritárias são (4 endemismos assinalados com o género escrito em maiúsculas):
Xanthorrhoeaceae (ASPHODELUS bento-rainhae)
https://www.biodiversity4all.org/observations/identify?place_id=8422&taxon_id=71400Ranunculaceae (Anemone nemorosa, RANUNCULUS henriquesii)
https://www.biodiversity4all.org/observations/identify?place_id=8422&taxon_id=48231Brassicaceae (ARABIS beirana, Erysimum lagascae)
https://www.biodiversity4all.org/observations/identify?place_id=8422&taxon_id=47204Caryophyllaceae (DIANTHUS laricifolius, Lychnis flos-cuculi)
https://www.biodiversity4all.org/observations/identify?place_id=8422&taxon_id=48567Rosaceae (Potentilla montana, Rosa rubiginosa, Rubus genevieri, Sorbus aria, Sorbus latifolia, Sorbus torminalis)
https://www.biodiversity4all.org/observations/identify?place_id=8422&taxon_id=47148Asteraceae (Avellara fistulosa, Doronicum carpetanum, Jurinea humilis, Senecio doria, Senecio nemorensis)
https://www.biodiversity4all.org/observations/identify?place_id=8422&taxon_id=47604Fabaceae (Astragalus glycyphyllos, Genista berberidea, Vicia orobus)
https://www.biodiversity4all.org/observations/identify?taxon_id=47122&place_id=8422Lamiaceae (Nepeta caerulea, Stachys palustris)
https://www.biodiversity4all.org/observations/identify?place_id=8422&taxon_id=48623Dryopteridaceae (Dryopteris carthusiana, Dryopteris guanchica)
https://www.biodiversity4all.org/observations/identify?place_id=8422&taxon_id=47753Asparagaceae (Anthericum liliago)
https://www.biodiversity4all.org/observations/identify?place_id=8422&taxon_id=47599
[1] https://listavermelha-flora.pt/wp-content/uploads/2020/10/Lista_Vermelha_Flora_Vascular_Portugal_Continental_2020_versao_digital.pdf
[2] https://www.biodiversity4all.org/projects/biodiversidade-autoctone-da-lousa